
polêmicas declarações do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, sobre Israel
esquentaram o clima entre os dois países, que aparentam estar à beira de um
conflito armado. Incomodado com as incitações de ódio contra o território
judeu, chamado de “tumor cancerígeno”, o primeiro ministro
israelense, Benjamin Netanyahu, ameaça invadir o país entre setembro e outubro,
às vésperas da eleição presidencial dos Estados Unidos, prevista para novembro,
para destruir o projeto nuclear iraniano, o que tem causado apreensão entre
duas as populações.
Em
visita ao Brasil, o estudioso israelense Jonathan Fine, consultor sobre diplomacia
e religião do Centro Interdisciplinar Herzlyia, de Jerusalém (IDC, na sigla em
inglês), e pesquisador do Instituto Internacional para a Luta contra o
Terrorismo (ICT, também em inglês), afirmou que a ação israelense independe do
apoio do governo norte-americano, e disse acreditar que a intervenção é apenas
uma questão de tempo, embora não haja consenso sobre como agir.
visita ao Brasil, o estudioso israelense Jonathan Fine, consultor sobre diplomacia
e religião do Centro Interdisciplinar Herzlyia, de Jerusalém (IDC, na sigla em
inglês), e pesquisador do Instituto Internacional para a Luta contra o
Terrorismo (ICT, também em inglês), afirmou que a ação israelense independe do
apoio do governo norte-americano, e disse acreditar que a intervenção é apenas
uma questão de tempo, embora não haja consenso sobre como agir.
“A
decisão será tomada a partir da seguinte pergunta: nós, israelenses, estamos
prontos para conviver com um Irã armado com uma bomba nuclear?
decisão será tomada a partir da seguinte pergunta: nós, israelenses, estamos
prontos para conviver com um Irã armado com uma bomba nuclear?
Quanto tempo
mais nós poderemos esperar?”, afirmou, em entrevista ao Terra, em São
Paulo.
mais nós poderemos esperar?”, afirmou, em entrevista ao Terra, em São
Paulo.
Na
avaliação de Fine, o clima de tensão é mais sério do que se imagina, e as
declarações de Ahmadinejad não têm sido encaradas como “piada” pelo
governo israelense, embora, em sua opinião, a comunidade internacional tenha
“ignorado as ameaças”, “como tem feito em relação às atrocidades
ocorridas na Síria”, disse.
avaliação de Fine, o clima de tensão é mais sério do que se imagina, e as
declarações de Ahmadinejad não têm sido encaradas como “piada” pelo
governo israelense, embora, em sua opinião, a comunidade internacional tenha
“ignorado as ameaças”, “como tem feito em relação às atrocidades
ocorridas na Síria”, disse.
Na
entrevista, o acadêmico traça um panorama do cenário, compara o líder iraniano
a Adolf Hitler, e critica os governos latino-americanos esquerdistas por se
aproximarem do Irã. “É preciso entender que não é o Che Guevara ou o Simon
Bolívar quem estão trabalhando nesses países”, opinou.Leia abaixo os
principais trechos da conversa.
entrevista, o acadêmico traça um panorama do cenário, compara o líder iraniano
a Adolf Hitler, e critica os governos latino-americanos esquerdistas por se
aproximarem do Irã. “É preciso entender que não é o Che Guevara ou o Simon
Bolívar quem estão trabalhando nesses países”, opinou.Leia abaixo os
principais trechos da conversa.
Terra
– O que acirrou o clima de tensão entre Israel e Irã nas últimas semanas?
– O que acirrou o clima de tensão entre Israel e Irã nas últimas semanas?
Jonathan
Fine – Em vários aspectos, o governo atual do Irã é, provavelmente, o pior
regime desde o nazismo alemão. E não são somente por causa das declarações
contra judeus. Há uma profunda ideologia antissemita. A combinação entre a
ideologia antissemita e armas nucleares é algo que nós simplesmente não vamos
aceitar. Simples assim. (…) Uma semana não passa sem que alguém, seja o líder
supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, seja o Ahmadinejad, não façam ameaças
de nos destruir. E isso apenas 60 anos após o Holocausto. Israel não vai
aceitar passar por isso novamente. Nós não vamos caminhar novamente para
câmaras de gás. Isso não é retórica, é como pensamos mesmo.
Fine – Em vários aspectos, o governo atual do Irã é, provavelmente, o pior
regime desde o nazismo alemão. E não são somente por causa das declarações
contra judeus. Há uma profunda ideologia antissemita. A combinação entre a
ideologia antissemita e armas nucleares é algo que nós simplesmente não vamos
aceitar. Simples assim. (…) Uma semana não passa sem que alguém, seja o líder
supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, seja o Ahmadinejad, não façam ameaças
de nos destruir. E isso apenas 60 anos após o Holocausto. Israel não vai
aceitar passar por isso novamente. Nós não vamos caminhar novamente para
câmaras de gás. Isso não é retórica, é como pensamos mesmo.
Terra
– Quais as chances de Israel invadir o Irã? Ou é um blefe do Benjamin
Netanyahu?
– Quais as chances de Israel invadir o Irã? Ou é um blefe do Benjamin
Netanyahu?
Jonathan
Fine – O debate principal que ocorre em Israel é sobre quando e como invadir o
Irã. O programa nuclear iraniano tem de se desenvolvido mais e mais a cada dia
que passa. (…) E nós temos uma teocracia no Irã. Então o cara que decide o
que fazer com essa bomba nuclear é um líder fundamentalista religioso. Nós não
podemos deixar a segurança de Israel nas mãos de um líder assim. Então a
pergunta que fica é: quanto tempo mais nós poderemos esperar? Algumas pessoas
(do governo) acham que Israel deve agir imediatamente, mas alguns acreditam que
alguns meses não fará diferença. Mas a decisão terá de ser tomada por Israel.
Porque o Irã não está ameaçando os Estados Unidos, está ameaçando a gente.
Fine – O debate principal que ocorre em Israel é sobre quando e como invadir o
Irã. O programa nuclear iraniano tem de se desenvolvido mais e mais a cada dia
que passa. (…) E nós temos uma teocracia no Irã. Então o cara que decide o
que fazer com essa bomba nuclear é um líder fundamentalista religioso. Nós não
podemos deixar a segurança de Israel nas mãos de um líder assim. Então a
pergunta que fica é: quanto tempo mais nós poderemos esperar? Algumas pessoas
(do governo) acham que Israel deve agir imediatamente, mas alguns acreditam que
alguns meses não fará diferença. Mas a decisão terá de ser tomada por Israel.
Porque o Irã não está ameaçando os Estados Unidos, está ameaçando a gente.
Terra
– Alguns críticos ao governo dizem que se trata se uma estratégia do
primeiro-ministro para interferir nas eleições dos Estados Unidos, já que as
relações entre ele e o Barack Obama não são as melhores…
– Alguns críticos ao governo dizem que se trata se uma estratégia do
primeiro-ministro para interferir nas eleições dos Estados Unidos, já que as
relações entre ele e o Barack Obama não são as melhores…
Jonathan
Fine – Não é nenhum segredo que existe uma tensão na relação entre o Netanyahu
e o Obama. Mas eu não acho que uma decisão tão crucial, com todas as
implicações que envolvem, tem qualquer relação com as eleições dos Estados
Unidos. Eu não estou dizendo que Israel é pró-Romney (Mitt Romney, candidato
republicano) ou pró-Obama, mas a decisão de invadir ou não o Irã não depende
disso, depende de quão avançado está o programa nuclear do Irã. Mas essa
questão é importante demais para presumir que se trata de uma questão política.
(…) Eles não estão falando em nos atacar ou bombardear Israel. Eles estão
incitando as pessoas a exterminar os judeus. As pessoas nos perguntam por que
nos importamos. Bom, ninguém se importava com o que um austríaco dizia nos anos
20 (em referência a Adolf Hitler), todos achavam que era um louco, e olha o que
aconteceu. Alguns nos acham paranoicos. Ok, mas nós temos um bom motivo para
isso.
Fine – Não é nenhum segredo que existe uma tensão na relação entre o Netanyahu
e o Obama. Mas eu não acho que uma decisão tão crucial, com todas as
implicações que envolvem, tem qualquer relação com as eleições dos Estados
Unidos. Eu não estou dizendo que Israel é pró-Romney (Mitt Romney, candidato
republicano) ou pró-Obama, mas a decisão de invadir ou não o Irã não depende
disso, depende de quão avançado está o programa nuclear do Irã. Mas essa
questão é importante demais para presumir que se trata de uma questão política.
(…) Eles não estão falando em nos atacar ou bombardear Israel. Eles estão
incitando as pessoas a exterminar os judeus. As pessoas nos perguntam por que
nos importamos. Bom, ninguém se importava com o que um austríaco dizia nos anos
20 (em referência a Adolf Hitler), todos achavam que era um louco, e olha o que
aconteceu. Alguns nos acham paranoicos. Ok, mas nós temos um bom motivo para
isso.
Terra
– Mas para Israel a vitória se Romney seria mais interessante, ou não?
– Mas para Israel a vitória se Romney seria mais interessante, ou não?
Jonathan
Fine – É obvio que as relações entre o Obama e o Netanyahu estão tensas, mas a
verdade é que pouco importa quem vencer as eleições. A política internacional
dos Estados Unidos pouco mudou entre um governo e outro. (…) Israel e os
Estados Unidos têm muitos interesses em comum, apesar das divergências. E é
claro que as relações pessoais influenciam, mas a verdade é que a relação entre
os dois países é mais profunda e não irá mudar muito independentemente de quem
vencer. (…) Os EUA sempre foram amigos de Israel, e Israel depende dos
Estados Unidos. É claro que seria melhor para todo mundo se o Obama e o
Netanyahu se dessem bem, mas isso não muda a estratégia internacional dos
americanos.
Fine – É obvio que as relações entre o Obama e o Netanyahu estão tensas, mas a
verdade é que pouco importa quem vencer as eleições. A política internacional
dos Estados Unidos pouco mudou entre um governo e outro. (…) Israel e os
Estados Unidos têm muitos interesses em comum, apesar das divergências. E é
claro que as relações pessoais influenciam, mas a verdade é que a relação entre
os dois países é mais profunda e não irá mudar muito independentemente de quem
vencer. (…) Os EUA sempre foram amigos de Israel, e Israel depende dos
Estados Unidos. É claro que seria melhor para todo mundo se o Obama e o
Netanyahu se dessem bem, mas isso não muda a estratégia internacional dos
americanos.
Terra
– Mas o senhor acha que o povo americano apoiaria outra guerra com toda a
polêmica em torno das ações no Afeganistão e no Iraque?
– Mas o senhor acha que o povo americano apoiaria outra guerra com toda a
polêmica em torno das ações no Afeganistão e no Iraque?
Jonathan
Fine – Em primeiro lugar, Israel não quer ir à guerra contra o Irã. Israel quer
apenas parar o programa nuclear do Irã. São os iranianos quem irão decidir se
vão declarar uma guerra. O Israel tem uma política bem clara que é de acabar
com o programa nuclear iraniano. Se os iranianos vão querer declarar guerra a
Israel depois disso isso é outra questão. Os americanos estão cansados após
duas guerras no Oriente Médio? Sim. Mas as pesquisas mostram que mais de 50%
dos americanos apoia a destruição do arsenal nuclear iraniano.
Fine – Em primeiro lugar, Israel não quer ir à guerra contra o Irã. Israel quer
apenas parar o programa nuclear do Irã. São os iranianos quem irão decidir se
vão declarar uma guerra. O Israel tem uma política bem clara que é de acabar
com o programa nuclear iraniano. Se os iranianos vão querer declarar guerra a
Israel depois disso isso é outra questão. Os americanos estão cansados após
duas guerras no Oriente Médio? Sim. Mas as pesquisas mostram que mais de 50%
dos americanos apoia a destruição do arsenal nuclear iraniano.
Terra
– E como Israel coordenaria uma ação dessas sem os Estados Unidos?
– E como Israel coordenaria uma ação dessas sem os Estados Unidos?
Jonathan
Fine – O Obama não quer que nada seja feito agora porque ele está em campanha
eleitoral, e existe uma forte crise econômica. Eu entendo o ponto de vista
dele. Mas eu também entendo o nosso.
Fine – O Obama não quer que nada seja feito agora porque ele está em campanha
eleitoral, e existe uma forte crise econômica. Eu entendo o ponto de vista
dele. Mas eu também entendo o nosso.
Do ponto de vista estratégico, é óbvio que
é melhor aguardar os Estados Unidos. A questão: a gente pode aguardar? (…) E
também precisamos dar a devida importância ao Irã: o Irã não é a Rússia, não é
a China. É um país de terceiro mundo com um regime louco, mas há um limite para
o que eles podem fazer. E isso é importante que fique claro. Eu não estou
subestimando eles, mas não vamos superestimá-los.
O que eu quero dizer é:
quando falamos em destruir o laboratório nuclear deles, nós não estamos falando
em ‘fim do mundo’, não é esse o caso. As pessoas estão exagerando um pouco.
Isso não iria gerar uma terceira guerra mundial. Porque os iranianos sabem que,
se tentarem alguma loucura, os Estados Unidos vão acabar com eles.
quando falamos em destruir o laboratório nuclear deles, nós não estamos falando
em ‘fim do mundo’, não é esse o caso. As pessoas estão exagerando um pouco.
Isso não iria gerar uma terceira guerra mundial. Porque os iranianos sabem que,
se tentarem alguma loucura, os Estados Unidos vão acabar com eles.
Terra
– Qual avaliação que o senhor faz da relação entre o governo brasileiro e o
Irã?
– Qual avaliação que o senhor faz da relação entre o governo brasileiro e o
Irã?
Jonathan
Fine – E eu acho que os brasileiros e os latino-americanos precisam entender,
principalmente os mais inclinados à esquerda, é que não é o Che Guevara e o
Simon Bolívar que estão trabalhando nesses países. Essas são teocracias, não
democracias. O regime do Irã vai contra tudo o que vocês acreditam. (…) Mas
acho que a presidente Dilma Rousseff foi muito sábia ao não se encontrar com
Ahmadinejad, e como não sou especialista no Brasil, tenho que ter cuidado para
não falar besteira. Mas acho que ela demonstrou que está repensando a posição
do governo brasileiro em relação ao Irã, porque o Brasil não ganha nada com
essa relação.
Fine – E eu acho que os brasileiros e os latino-americanos precisam entender,
principalmente os mais inclinados à esquerda, é que não é o Che Guevara e o
Simon Bolívar que estão trabalhando nesses países. Essas são teocracias, não
democracias. O regime do Irã vai contra tudo o que vocês acreditam. (…) Mas
acho que a presidente Dilma Rousseff foi muito sábia ao não se encontrar com
Ahmadinejad, e como não sou especialista no Brasil, tenho que ter cuidado para
não falar besteira. Mas acho que ela demonstrou que está repensando a posição
do governo brasileiro em relação ao Irã, porque o Brasil não ganha nada com
essa relação.
Fonte: Terra